quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dor que não passa

Desço à rua com os olhos na boca
e a saliva nas mãos
para te carregar, já aqui.

Carrego-te em vergões, às costas,
em equilíbrio numa malha
do teu vestido.

Vens-me daí, de onde me sabes,
como te cheiro, num palco de rua,
numa cheia decidida.

És impossível, de interromper,
de cessar, antes eu,
já aqui, até que os meus olhos hão-de quebrar
e aí o costume de só deixares a capa
a embalar as tábuas.

Sei também que és por mim, que serei a erguer-te
no momento antes da tua morte, no último prego
mesmo com a mão, num canto,
já aqui.

Apeteces-me tanto.

Sabes, é bom ver-te, mas olha, é melhor ter-te,
mesmo quando mandas chover e dás tempo de morrer à hora.
Mesmo quando grito para não voltar a ouvir a tua subida silenciosa.

Apeteces-me daí.

Sabes, sabes bem, um apetece de vai-vem,
o melhor da terra virada,
um rasto, uma teima para o mar toda voltada.

Apeteces-me já aqui.

Espero que me desças.

in Soluções do problema anterior, &etc.

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